Minha intuição começou a confidenciar segredos em meus ouvidos desde que eu era criança, mas só há poucos anos eu realmente comecei a prestar atenção no que ela me sussurrava com tanta insistência.
Em minha carreira profissional, hoje eu me lembro claramente de quando ela me disse “não vá por este caminho... ele não é o melhor para você... você vai se desgastar mais, vai sofrer mais, vai perder tempo e lá na frente vai descobrir que poderia ter evitado muitos aborrecimentos.”
Mas naquele momento era tudo muito inexplicável. Tudo muito fluido. Eu tinha apenas sensações. Eu me sentia inadequada. Eu me sentia fora do meu lugar. Era apenas eu com meus pressentimentos.
Não havia nada muito palpável que me indicasse que aquilo que minha intuição me dizia era a realidade e então eu a ignorei. Eu busquei explicações racionais – e encontrei muitas delas – que acalmaram meu coração e me fizeram seguir o caminho oposto na encruzilhada em que eu me encontrava.
Eu segui o caminho contrário, o racional, o lógico, e que depois, apesar de bem sucedido, se revelou como o mais tóxico para mim, para minha carreira, para minha vida. Então, depois de algum tempo ignorando minha intuição, eis que eu resolvo lhe dar ouvidos e tudo começa a mudar.
Nenhuma surpresa. Apenas um aprendizado e uma constatação. Hoje, é a minha intuição que me guia em todas as decisões importantes de minha vida. É a luz que ilumina todos os meus momentos turvos de indecisão.
Na verdade, hoje eu sei que essa é uma habilidade poderosa que eu já possuía, mas que não a estava valorizando como deveria. Hoje eu sei que confiar na intuição é uma vantagem sem tamanho. Uma vantagem que tem me levado a trilhar novos e diferentes caminhos. Desafiantes, nem sempre fáceis, mas com significado. E sem me fazer sentir aquela incômoda e triste sensação de “peixe fora d’água”, de “estranha no ninho”.
Na Psicologia, definimos intuição como “compreensão imediata e sem reflexão da realidade”.
Ela não deriva nem da percepção nem do raciocínio e é “uma espécie de iluminação instantânea e imprevisível”, que permite acessar diretamente a essência de algo ou alguém ou a solução de um determinado problema. É um sentimento automático, que surge sem esforço e que, muitas vezes, nos motiva a agir.
É uma habilidade que não está distribuída igualmente entre as pessoas e – pasmem – é um traço característico das crianças.
Para o psicólogo Carl Gustav Jung, a intuição é uma função psíquica fundamental, uma capacidade essencial que nos apresenta um conteúdo que na verdade nós não sabemos como foi construído.
O que é intuitivo não pode ser pesado, medido, verificado cientificamente. Daí vem a desconfiança quando nos deparamos com ela. Como me deixar guiar por algo que só sinto? Como confiar em algo que não sei explicar nem mesmo para mim? Desconfiamos desse sentir porque desde cedo aprendemos que o certo, o melhor, o maior é o racional. A via da razão é socialmente valorizada e a da intuição, da emoção e do sentir, é desvalorizada e, como consequência, aprendemos também a subestimá-la.
Apesar de não estar disponível a todas as pessoas em quantidades iguais – nos adultos, alguns são particularmente mais intuitivos que outros – a boa notícia é que a intuição é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Depois de aperfeiçoada, ela pode ser aplicada em muitas situações, desde te ajudar a lidar com situações em que esteja sob pressão, fazer simples escolhas cotidianas e até mesmo nas grandes decisões.
Se você tem uma pergunta a ser respondida, uma decisão a ser tomada, a intuição pode ajudar.
Muitas vezes já lemos ou ouvimos dizer que, frequentemente, os cientistas fazem suas descobertas geniais “acidentalmente”. No entanto, outras tantas evidências comprovam que este “acaso só favorece a mente preparada”, como disse Pasteur, o inventor da pasteurização.
E por uma mente preparada eu entendo que estes cientistas mantiveram sua mente curiosa e sempre alerta. Aberta. E capaz, por meio dessa abertura, de identificar padrões e criar conexões criativas. Muitas inovações que facilitaram nossa vida aqui no planeta surgiram dessa forma.
Vivemos na chamada sociedade da informação e o boom das novas tecnologias exacerbou essa característica do nosso tempo. Com a facilidade de incontáveis dados à nossa disposição, muitas pessoas afirmam preferir tomar decisões de forma racional, mas o fato é que, na maior parte das vezes, nossa mente fica sobrecarregada de dados.
Recentemente, li um estudo que demonstrava o poder de se usar a intuição, em vez de ignorá-la e usar apenas informações racionais. Neste estudo, um grupo de consumidores que confiou apenas na análise das informações disponíveis ficou satisfeito com sua compra em aproximadamente 25% do tempo. Por outro lado, pessoas que além de analisar amostras bem menores de dados, agregou a isto a sua intuição, mostraram-se 60% mais satisfeitas com o que adquiriram. Neste caso, o que o estudo queria provar era que a tomada de decisão com base na intuição poderia ser mais fácil, mais rápida e ser um processo bem sucedido, ainda que com informação insuficiente.
Comprovar que decisões fundamentadas na intuição podem ser as melhores é, por si só, um processo também intuitivo e que precisamos vivenciar para compreender e ir, aos poucos, incorporando-o em nossa vida.
Há que se pensar em equilibrar coração e mente, razão e emoção, intuição e racionalidade. E, até onde se sabe, ainda não existe essa fórmula mágica do equilíbrio perfeito.
Confiar na intuição envolve se conectar com quem você é de verdade e com seus desejos mais profundos, que muitas vezes são até inconscientes. É uma experiência de conexão corpo-mente-alma.
Muito provavelmente você já deve ter lido ou ouvido falar de seu sistema digestivo como seu “segundo cérebro”. Hoje já se sabe e muitas pesquisas comprovam que esse nosso sistema comporta em torno de meio bilhão de neurônios, muito mais do que o encontrado na medula espinhal, o que aponta para as incríveis habilidades de armazenamento e processamento de informações desse sistema.
Todo mundo sabe, por exemplo, como é a sensação de frio na barriga que experimentamos em determinadas situações. E aquela dor de barriga que não conseguimos explicar racionalmente? É nosso corpo falando. E não é só isto. Toda essa imensa rede neural pode interferir, sem que se perceba, com nosso cérebro – o primeiro – por assim dizer, afetando comportamentos, emoções e muito mais. Incrível, não?
Somos corpo, mente e alma em integração. E quando conseguimos equilibrar, entender e reunir tudo isso, os caminhos que esse tudo nos aponta, estamos em condições de tomar decisões mais satisfatórias. E também crescemos e evoluímos com esse conhecimento.
Usar a intuição no momento de tomar decisões é um recurso poderoso, uma habilidade que podemos acessar e desenvolver. por meio de aprendizado. É preciso, em primeiro lugar, manter a mente aberta, criar espaço para que a intuição se apresente a você. É preciso prestar atenção a ela.
Não existe receita, não existe mágica. É sensibilidade, atenção e aprendizado contínuo.
Comece por considerar mudar sua maneira de tomar decisões. Se você costuma analisar exaustivamente uma série de dados antes de se decidir, comece então, gradativamente, reduzindo suas informações. Tente racionalizar menos e acrescentar aos seus dados lógicos um pensamento mais intuitivo. No começo não será simples, mas lentamente você fará progressos, aprenderá a combinar esses dois tipos de dados e isso vai ajudar sua intuição a fluir.
Não despreze aquele pressentimento, aquele feeling que insiste em te indicar alguma coisa, em te dizer algo. Não veja isto como apenas uma sensação sem importância. Muitas vezes, é a sua intuição querendo te advertir, tentando te guiar por algum caminho e você, por um ou outro motivo, não dá a devida importância a essa sua voz interior.
Abra espaço em sua vida para a reflexão. É menos provável – ou seria impossível? – que a intuição floresça num ambiente movimentado, barulhento e cheio de estímulos externos que retiram de você a atenção sobre si mesmo. Para realmente ouvir a percepção que vem de dentro, você precisa construir para si um tempo para refletir sobre suas experiências. Isso pode ser não tão fácil de fazer, já que vivemos num tempo em que as agendas lotadas de compromissos são sempre hipervalorizadas. Para icomeçar, é preciso, antes de tudo, reconhecer a intuição como algo importante e a ser valorizado. A partir daí, fica mais fácil abrir espaços de tempo para que a reflexão vá aos poucos penetrando e ocupando lugar em sua vida . Acalmar-se e buscar atividades que tragam prazer e relaxamento, fazer caminhadas para se exercitar e limpar a mente, e meditar são apenas alguns exemplos de atividades que podem te ajudar a incluir na sua rotina momentos que vão favorecer a consciência de si e de suas experiências.
Aos poucos, você vai colher os resultados deste investimento em você e perceber sua intuição como um diferencial importante em suas decisões e na sua vida. Um diferencial capaz de transformações que você nem imagina.
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