o que foi um marco decisivo no desenvolvimento da psicoterapia. Ele também foi responsável por difundir o aconselhamento profissional em outras áreas, como por exemplo, na educação.
Discordando de tratamentos psicológicos anteriores que se baseavam na ideia de que todas as pessoas tinham distúrbios mentais e precisavam ser curadas, Rogers defendeu, a partir de muito estudo e investigação científica, que não havia nas pessoas um estado defeituoso, fixo, que precisasse ser consertado para que a vida transcorresse em melhores condições.
Rogers acreditava que não viemos ao mundo com o objetivo de nos “ajustar” e afirmou que realizamos o propósito de nossa existência ao fazer uma jornada de crescimento e descoberta que só finaliza quando morremos. Ele preferiu enxergar a experiência humana, bem como nossas mentes e o ambiente, como algo vivo, dinâmico, em um processo de crescimento constante.
Ele usou a expressão “vida plena” para se referir a essa sua forma de entender a vida como um fluxo contínuo e fluido de eternas mudanças, carregado de imprevisibilidade.
Para trilhar o caminho da saúde mental e gozar da vida plena, é necessário viver intensamente, momento a momento. Rogers afirmou que o “que serei e o que farei no momento seguinte é algo que brota do próprio momento e não pode ser previsto”.
Viver uma vida plena envolve assumir alguns comportamentos e atitudes que, aplicados a muitos aspectos de nossas vidas, conduzem a uma existência sadia, construtiva e com significado.
Como pessoa, assumir uma vida plena é iniciar um processo que não tem fim, é um eterno fluir em constante andamento, uma jornada de crescimento que começa quando você decide:
Segundo Rogers, gozar de uma vida plena é um processo que começa com uma disposição para manter a mente aberta e flexível; é estarmos prontos a viver com intensidade as experiências que a vida nos apresenta.
Isto porque a vida está repleta de possibilidades e nos oferece sempre muitos caminhos, mas muitas vezes nós preferimos não enxergar isto.
Durante quase todo o tempo, optamos por nos comportar como se estivéssemos presos num labirinto onde houvesse apenas uma saída e buscamos somente um caminho. Aquela rota única, que leva àquela saída também única.
Ao contrário, é preciso nos manter abertos e flexíveis ao que a vida traz, pois com a mente aberta podemos enxergar outras perspectivas, diferentes caminhos que podem nos levar a experiências de vida também diferentes e que poderão ser mais plenas de significado e crescimento.
No entanto, com frequência, tendemos a negar nosso estado de eterna mudança, de fluidez e criamos esquemas de como achamos que as coisas deveriam ser.
O passo seguinte a isso é que tentamos nos moldar e nos encaixar nessa realidade que criamos. Achamos que o mundo deveria funcionar de tal forma, que a vida deveria ser desta ou daquela maneira, que as pessoas com quem convivemos deveriam ser como gostaríamos que elas fossem e assim por diante.
Esse universo limitado que criamos acaba também limitando nossa capacidade de estar abertos à vida e às novas experiências que ela sempre pode nos apresentar.
O resultado disso é que vivemos aprisionados numa vida estagnada. Vivemos apegados a uma ideia que criamos de como as coisas deveriam ser e não nos permitimos aceitá-las como elas são de fato.
E quando o mundo, a vida e as outras pessoas não fazem o que queremos, não se comportam da maneira que pensamos ser a correta, então reagimos de forma defensiva.
Deixamos de ver outras opções, outras tantas possibilidades por considerá-las erradas e, com isso, colocamos limites a nós mesmos, à nossa vida e ao nosso crescimento pessoal.
Passamos a viver frustrados porque a vida não correspondeu às nossas expectativas e a frustração contínua pode gerar outros problemas, outras insatisfações. Pode ser o início de uma “grande e insalubre bola de neve”.
Conforme a pessoa vai se tornando mais aberta à vida e às possibilidades que surgem, gradativamente ela também vai conquistando a capacidade de confiar em si mesma e em seus instintos. Com isso, vai aos poucos surgindo uma habilidade maior para tomar decisões.
Ao mesmo tempo, essa pessoa vai tendo acesso a uma grande variedade de perspectivas e sentimentos e consegue avaliar melhor a si mesma.
Ela consegue avaliar melhor o seu potencial e decidir com base em suas reais necessidades.
Nesse fluxo, essa pessoa não fica mais à mercê do que pensa que deveria fazer, do que os outros pensam a seu respeito ou mesmo do que ela foi condicionada a pensar que queria.
A pessoa autoconfiante sabe que pode confiar em si mesma pelo fato de ser totalmente responsável pelas conseqüências de seus atos. Sabe que está sujeita a errar, mas sabe também que poderá corrigir sua rota, caso o caminho que buscou seja insatisfatório.
O que escolhemos fazer ou pensar depende apenas de nós mesmos.
Somos totalmente responsáveis por nós mesmos e nossa vida.
Quando definimos por conta própria nossas necessidades e trabalhamos para alcançar nossas metas, reduzimos a quase zero a probabilidade de arrependimentos e ressentimentos por nossas escolhas.
Ao contrário, quando permitimos que algum agente externo, uma circunstância ou mesmo outra pessoa interfira em nossas escolhas, o resultado é desastroso.
Quem de nós, por exemplo, nunca ouviu uma história parecida com a daquele conhecido que detesta a sua profissão mas que continua exercendo porque seus pais lhe disseram que ela lhe traria prestígio social, porque lhe disseram que assim ele teria a aprovação da sociedade?
A influência externa (pessoas, situações, circunstâncias, etc) sobre nossos desejos e sobre os rumos de nossas vidas é muito nociva a nós mesmos.
Quando agimos de acordo com o desejo de outras pessoa, perdemos nossa autenticidade, perdemos nossa essência. Se algo não sair como gostaríamos ou como imaginamos, iremos culpar essa outra pessoa ou então nos colocar no papel de vítima. Perdemos também o controle de nossa vida e a possibilidade de fazer dela o que realmente gostaríamos.
Assumir a responsabilidade por nossas escolhas é fazer um investimento crescente em nossa vida.
Nos dias de hoje, costumamos valorizar excessivamente as aparências, o que está na superfície e está mais visível no outro. Valorizamos as conquistas, as ações, os feitos. Priorizamos o ter e menosprezamos o ser.
Quando privilegiamos esse aspecto, o restante, tudo aquilo que não é tão facilmente visível no outro, costuma ficar em segundo plano.
A consideração positiva incondicional começa quando você se aceita como é, quando você se aprova e se valoriza em função de quem você simplesmente é como pessoa.
Essa aceitação precisa acontecer também com as outras pessoas com quem relacionamos e convivemos.
O que acontece é que normalmente tendemos a estabelecer uma série de condições que precisam ser satisfeitas para que alguém faça parte de nossa experiência de vida.
São critérios determinantes e que, quando não cumpridos, muitas vezes nos impedem de estabelecer vínculos que seriam extremamente positivos para nós e nosso entorno.
Eu costumo sempre me lembrar de uma conhecida que me dizia que para namorar com ela o rapaz precisava ter um diploma de pós-graduação, uma determinada aparência física que ela não abria mão, uma conta bancária com valor expressivo e coisa e tal. O resultado dessa lista de critérios foi, até onde eu pude observar, a perda de oportunidade de conhecer e se relacionar com pessoas que poderiam até não atender a essas condições, mas que seriam, no mínimo, experiências de aprendizado e abertura curiosa à vida e às suas possibilidades infinitas.
Outro exemplo acontece na educação dos filhos. São aqueles pais que, indiretamente, ensinam a seus filhos que eles só serão amados e aceitos se, desde muito cedo, se mostrarem como bem sucedidos. São pais que perdem a capacidade de aceitar e amar seus filhos abertamente apenas por eles serem quem são. “Filhinha, papai não vai gostar de você se você não tirar nota dez em tudo”.
Colocar a si mesmo e ao outro no lugar de sempre ter que atender a requisitos de valor e expectativas arbitrárias não faz bem a ninguém. Não é mentalmente saudável.
As conquistas precisam sim ser respeitadas e valorizadas mas não devem fazer parte e nem se tornarem pré-condições de aceitação.
Toda pessoa tem o seu potencial, o seu valor, e reconhecer isto é o que Rogers chama de “olhar positivo incondicional”.
Viver uma vida plena começa por viver o presente.
O passado deve ser valorizado pelo aprendizado que dele podemos retirar. Pelas experiências de gratidão a tudo que tivemos a oportunidade de vivenciar. Ao que nos foi dado viver e ao que pudemos construir a partir dele no presente.
O passado é um elo que nos une ao presente e o presente é um elo que nos une ao futuro.
Viver uma vida plena é conseguir olhar de forma positiva para estes três elos que permanecem unidos e constroem nossa existência.
Viver uma vida plena é entender a importância de cada um em nossa jornada e, a partir dessa compreensão, conectar o passado ao presente na construção do amanhã que começa hoje.
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